"A Floresta das Almas Perdidas" - Entrevista ao realizador José Pedro Lopes


"A Floresta das Almas Perdidas" estreia a 12 de Outubro

No local mais triste do mundo, dois estranhos conhecem-se. Mas um deles está feliz por estar ali.

"A Floresta das Almas Perdidas" é uma zona florestal na fronteira entre Portugal e Espanha, cujo isolamento e beleza natural tornaram num destino assombrado pela prática do suicídio.
Num dia frio de verão, dois suicidas conhecem-se por acidente. Ricardo (Jorge Mota) é um pai de família à procura do local onde a sua filha morreu. Carolina (Daniela Love) é uma jovem obcecada pela morte. Os dois formam uma invulgar amizade enquanto decidem se a vida vale a pena. 

Um deles não é quem diz ser.

Imaginado como uma boneca “matryoska”, "A Floresta das Almas Perdidas" é um conto de terror dentro de uma drama sobre a chegada à idade adulta, uma reflexão sobre a vida e a felicidade envolta num filme de suspense "slasher" inspirado pelo cinema dos anos 70.


A longa-metragem portuguesa “A Floresta das Almas Perdidas” chega aos cinemas portugueses a 12 de outubro pela Legendmain Filmes.

O filme teve a sua estreia mundial na competição da Semana dos Realizadores da edição de 2017 do histórico Fantasporto. Desde então venceu festivais como o Fant Bilbao - Festival de Cinema Fantástico de Bilbao (Melhor Filme) e TripleSix Manchester Horror Film Festival (Melhor Realizador e Prémio do Público). O filme foi selecção também do Festival de Cinema de Sydney, um dos maiores do mundo.

O filme foi produzido pela produtora Anexo 82, com o apoio do coletivo Creatura, do Studio 2203 e da Agente a Norte. O projecto recebeu um apoio da Fundação GDA. Realizado por José Pedro Lopes, o filme conta com Daniela Love («A Rapariga da Câmara de Filmar», «Offline») no principal papel, Jorge Mota, Mafalda Banquart e Lígia Roque.

Considerado pelo Bloody Disgusting como "um dos filmes do ano" e pela Variety como "um thriller maldoso e impressionante que funciona com uma impiedosa eficiência".

O filme conta com distribuição comercial marcada nos EUA e Canadá (Wild Eye Releasing) e Suécia (Last Exit Entertainment). Chega primeiro aos cinemas nacionais já em outubro.

O filme foi rodado em várias localizações em Portugal, Espanha e Rússia.

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Entrevista com o realizador e escritor de "A Floresta das Almas Perdidas"

MaisTerror: Como surgiu o projecto “A Floresta das Almas Perdidas”?

José Pedro Lopes: A Floresta surgiu inicialmente como um “pitch” de uma curta-metragem no FEST Pitching Forum, um evento de co-produções internacionais que decorre em Espinho todos os verões. A ideia original envolvia uma história de amizade e companheirismo, numa floresta conhecida pela prática do suicídio, que inesperadamente se convertia num conto de horror.
Com o tempo esta ideia fundiu-se com outras ideias e foi se compondo a história de longa duração que é A Floresta das Almas Perdidas. O Anexo 82 (a nossa produtora) queria arriscar fazer uma longa metragem, com pouco dinheiro mas a fazer o que sabíamos fazer bem e por nós. Então este foi, de todos os projetos que tínhamos, aquele que achamos que era o ideal.

MT: Quanto tempo demorou a escrever o argumento? Foi um processo fácil?

JPL: A ideia inicial surgiu em 2012, sendo que escrevi a longa ao longo de 2014. Ao longo da rodagem (que foram três semanas espalhadas ao longo de um ano e meio) fui editando e repensando coisas. Mesmo eu próprio aprendi mais sobre as personagens e sobre o que o filme ao fazê-lo, com o input dos atores e com ver o filme ganhar forma.
Escrever é um processo demorado, que envolve muita re-escrita e re-invenção. Devemos ouvir os outros e absorver o que dizem, e questionar tudo. Há ideias fortes de A Floresta que foram dar lugar a outras entre o primeiro draft, o guião, a rodagem e a edição. É um processo em constante evolução.
Mas tens de o controlar, senão ficas a fazer o mesmo filme para sempre.

MT: Como surgiu o gosto pelo cinema?

JPL: Ao ser adolescente nos anos 90, descobri o cinema em viagens a videoclubes. Eu e o meu irmão mais velho eramos capazes de apanhar dois autocarros para alugar o filme do “Sexta-Feira 13” que não tínhamos visto. Era uma aventura.
Desde cedo quis fazer cinema, e sempre tive muitas referências cinéfilas fruto de ver muitos filmes. O gosto pelo fantástico veio creio de uma rebeldia natural que o género tem. É irreverente, toma riscos, tenta tirar reações. O terror é um género que geralmente afasta quem não gosta assim muito de cinema ou tem a mente mais fechada.
Por outro lado, ao crescer ia todos os anos ao Fantasporto, que nos anos 90, era dos poucos locais onde conseguia ver cinema asiático ou filmes mais invulgares do cinema europeu. Foi lá que vibrei com o cinema do Takeshi Miike, referência incontornável de A Floresta das Almas Perdidas.

MT: Qual o caminho percorrido até chegar a realizador?

JPL: Nós fundamos o Anexo 82 em 2011 com a ideia de dar continuidade ao trabalho na área do audiovisual que tínhamos vindo a desenvolver. Em todas as áreas e em todos os níveis. Fazer ficção era uma vontade natural de quem anda nestas coisas, mas não houve (nem há) um plano muito meticuloso.
Ser eu realizar veio mais por necessidade de controlar tudo do que por vontade. Sempre preferi fazer produção. Mas quando o orçamento é curto, porque vezes a melhor aposta de um produtor é também realizar.
Como realizador fiz algumas curtas no género do fantástico como o Survivalismo e O Risco, o M is for Macho (para o concurso do The ABCs of Death e agora integrante da antologia World of Death) e o Noite de S. João (desenvolvida para o canal americano Crypt TV). Mas os trabalhos que mais me orgulhos são como produtor.

MT: A escolha do casting foi feita inteiramente pelo José?

JPL: O elenco jovem já tinha todo trabalhado connosco antes. O Jorge Mota era uma grande referência por todo o trabalho que faz e foi uma honra tê-lo a bordo. A Lígia Roque foi um caso de “overcasting”. Era um papel muito pequeno mas acabamos por conseguir uma actriz experiente e cheia de talento.
Foi uma sorte porque o filme viu o seu lado dramático crescer bastante com todos estes atores talentosos.

MT: Onde decorreram as filmagens em Portugal?

JPL: O filme foi filmado em diversos locais apesar de A Floresta ser, supostamente, entre Portugal e Espanha a norte.
Filmamos uma parte na zona do Caramulo, outro em Vila do Conde, outra no Parque Natural de Sanabria (Espanha).  Uma parte grande dos interiores em Águeda e outra no Porto. O Jardim da Venda Nova, de Águeda, faz uma aparição surpresa. Tal como o Azurara Beach Party, em Vila do Conde.

MT: “A Floresta das Almas Perdidas” tem conquistado todos os festivais por onde passou, como se sente um realizador depois de ver o seu filme receber distinções tão conceituadas?

JPL: A crítica tem sido na sua maioria positiva, e o filme venceu três prémios que nos deixaram muito contentes.
Foi um processo que deu muito trabalho e passou por muitos mais “não” do que “sim”, muito mais rejeição do que aprovação. O facto de termos tantos festivais e tanta distribuição é apenas sinal que batemos mesmo muitas vezes o nariz na porta e levamos negas.
Deixa-me contente que este trabalho coletivo tenha conseguido superar as nossas expectativas. Durante muito tempo achávamos que o filme não ia ser aceite em lado nenhum.
Creio que muita gente acha que tivemos um plano bem-sucedido, mas a verdade é que fomos nos adaptando às adversidades e aproveitando as oportunidades.

MT: O site Bloody Disgusting considerou o filme como “um dos melhores do ano”. O que espera da distribuição do filme por terras americanas?

JPL: Creio que o grande catalisador da distribuição do filme foi a exibição no Festival de Sydney e posteriormente uma crítica muito positiva que a Variety publicou. A partir daí passamos a receber mais contactos do que a fazer.
Depois com o selo de aprovação do Bloody Disgusting então ainda mais confiante ficamos.
A Wild Eye Releasing (distribuidora norte-americana do filme) está muito entusiasmada com o filme – existe nos EUA um público grande para terror “art house”. Temos também distribuição marcada na Suécia, no Canadá, em Espanha e no Reino Unido.

MT: A indústria dos filmes de terror em Portugal está, ainda, aquém de outros países. Acredita numa possível mudança de paradigma?

JPL: Quando fazes um filme é muito difícil conseguires financiamento, especialmente se estás a começar. Depois de feito é ainda mais difícil conseguires um distribuidor. E depois salas. Toda a gente no processo vai te dizer que ninguém quer ver um filme português, ou um filme artístico, ou um filme a preto e branco. Ou pior, que ninguém quer ver um filme com baixo orçamento. Ou sem celebridades. Ou sem um realizador conhecido.
Aliás, antes de filmarmos um produtor estrangeiro reuniu-se comigo depois de ler o guião e disse-me que achava que o que estava escrito era muito interessante, tinha muito potêncial. Mas que se o fosse fazer, nunca poderia ser comigo porque não era conhecido. Se te dizem que não és conhecido porque fazer filmes de pouco orçamento, e que não te financiam porque não és conhecido, acho que podes concluir que estás entregue a ti mesmo.
Acho que há muito gente com talento e paixão a querer fazer cinema fantástico em Portugal. Basta ver as curtas fantásticas que são feitas todos os anos.
Mas creio que para ser uma indústria, e ser constante, tem de haver filmes longos a sair quase todos os anos, e ser criado um mercado. Tem de haver público e este exigir os filmes, querer os filmes. Creio que se o público se mexesse mais, todos os outros passos do processo seriam mais fáceis.

MT: Como convenceria os fãs do MaisTerror a ver “A Floresta das Almas Perdidas” nos cinemas?

JPL: A Floresta das Almas Perdidas é um filme invulgar, que muda de género, que tem um “twist” muito ambicioso (talvez demais), que percorre referências no terror que vão do John Carpenter ao Takeshi Miike. E é português, por isso tem muita coisa nossa que o tornam ainda mais curioso.

MT: Sobre futuros projectos, o que tem em mente?

JPL: O Anexo 82 está a desenvolver vários projectos a procura de financiamento, uns de género outros não, uns de curta outros de longa duração.
Estamos de momento a terminar uma curta-metragem de animação com o Coletivo Creatura com quem já trabalhamos na Floresta.
Agora dependendo de como funcionar toda a distribuição de A Floresta podemos decidir arriscar em fazer outra longa-metragem de género, nos mesmos moldes arriscados e de sacrifício pessoal. Mas isso só o tempo dirá.


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